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Ângela Hofmann

Escritora

“Adormecida: Cem anos para sempre”

Editora 8INVERSO, 2012.

“Outro comentário muito bonito, poético, de Angela Hofmann, sobre Adormecida: cem anos para sempre. Gente, depois dizem que o leitor é receptor passivo! Jamais. O leitor sempre descobre coisas que o autor jamais pensou em dizer… seja em palavras ou em artes:”  
Paula Mastroberti  (Facebook).

Comentário para “Adormecida: Cem anos para sempre”.
Para sempre. Nem por isso igual.

O que dizer do que vejo nestes acontecimentos em mim refletidos? O que ponderar? É possível entender o porquê disto? Seria ambição demais para mim, uma simples criatura. Mas o que vejo… Ah! Isso sim! Posso afirmar que vi! Do quê em mim se insinua, mesmo que para ti, Príncipe, seja obscuro, sou testemunha fatal. Dos ciclos, da eternidade, do vazio… Quando fôra mesmo que adentraste o castelo, a caverna vaginal? Achas mesmo que a história se repetiu por causa de tua presença? Ou apesar dela? Pois que a bela renascia…

Num reino encantado nasceu um bebê, uma bela menina, que em todos despertava as melhores qualidades!  Crescia a menina, mas antes de alcançar sua maturidade foi adormecida por um feitiço implacável, devido a um dom desconsiderado. O feitiço foi lançado: teria que ferir-se num fuso! Nada vence uma feiticeira… Nada! Ninguém!, com estas palavras a feiticeira selou o destino que se consolidaria.

Príncipe, quando percebeste que os portões do castelo estavam abertos e aventastes fugir e abandonar aquela  sorte, surgiu, bem a sua frente, a possibilidade do amor. Mas o que viste era ainda uma criança, uma mulher em flor…  Não foste embora. Tu ficaste porque precisavas desta história para te libertar também. Libertaste a ti mesmo, mas não libertaste a história. O castelo continua no mesmo lugar, o tempo não foi interrompido. São cem anos, o que durará este ciclo de vida, e durará para sempre. Se a história voltava a se se repetir, como afirmavam as zelosas Fadas Madrinhas, é porque a Princesa já fora despertada dantes e tornava a ser um bebê! O castelo é destruído para quem vive o seu feitiço. Mas continua intacto até o próximo enfeitiçado. Uma história que se vive de dentro para fora.

Bela estava fadada a deixar de ser uma menina e transformar-se em tempo de espera: no fuso, a morte. A morte de quem era. Junto, vinha a promessa de reviver. A  menina se perdera, a infância morrera. Quase uma violação, o corpo que mudava pedia passagem. Assustadores instintos e forças subterrâneas invadiam o sexo. A latência se despedia.

A história não se repetirá se o feitiço for quebrado. O que é quebrar o feitiço nesse caso? Selar a vida nos lábios da adormecida integrando e sensualizando a criança? Sair do castelo assumindo tua vida real – de fato, unindo-te à mulher, tua descendência te traria poder e imortalidade. Aceitar o convite de amar até as últimas consequencias do inferno, oferecido pela feiticeira? 

A caverna está disponível, e o que ela revela é particular para cada estrangeiro, lidando com seus próprios fantasmas. Com sua própria morte. Morte do explorador, morte do andarilho para se tornar um homem. Todos estão mortos ou dormem?, tu te perguntavas. E o ciclo se repete, infinitamente, quantas vezes houver uma mulher ou um homem. Enquanto houver adormecida-bruxa e um estrangeiro-príncipe. Para ti ainda há muito que percorrer, Príncipe! Há que integrar em ti mesmo a mulher que despertaste, sem te perder em dualidades, ir além do bem e do mal.  Nem adormecida, nem bruxa. No fuso, a fusão, da menina em mulher, da ingenuidade à sabedoria. Inocentar a ti mesmo pelo fogo que te consome.

Disto “eu” sei porque reflito… me fitas todos os dias, me chamas de espelho.

Por Angela Ariadne Hofmann, dez / 2012.

 Adormecida: Cem anos para sempre”. A ed. 8INVERSO quebra o feitiço de mais de vinte anos do livro de Paula Mastroberti, revelando a princesa contida na feiticeira: 
“meu interesse pelos contos de fadas jamais arrefeceu, nem mesmo na adolescência, etapa em que, em geral, renegamos as preferências infantis.… fui uma estudante de Artes destoante, avessa aos conceitos ainda presos a uma estética modernista nos quais eu não conseguia me encaixar.” (Paula Mastroberti).
“Adormecida: Cem anos para sempre”
Paula Mastroberti
Ed. 8INVERSO
2012
“Adormecida: Cem anos para sempre”

Um pensamento em ““Adormecida: Cem anos para sempre”

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